Nosso referencial teórico
1. O ser humano tem a capacidade, latente ou manifesta, de compreender-se a
si mesmo e de resolver seus problemas de modo suficiente para alcançar
a satisfação e a eficácia necessárias ao funcionamento
adequado. Tem a capacidade de crescer, de aperfeiçoar-se, de se realizar
plenamente como pessoa humana. E tem a tendência a exercer essa capacidade.
2. Essa capacidade e essa tendência são inerentes ao homem. Fazem
parte de sua bagagem natural, mas sua atualização não acontece
por si só. Depende de clima humano propício, desprovido de ameaças
ao eu. Se não acontecem essas condições, o desenvolvimento
é impedido.
3. Se, nas relações interpessoais que estabelece ao longo de sua
existência, a pessoa não encontra as condições favoráveis
necessárias, seu desenvolvimento é barrado, pára. Ao mesmo
tempo, a imagem que faz de si mesma fica ameaçada e a pessoa não
está mais aberta para a experiência, nem disponível para
se envolver em relacionamentos humanos enriquecedores, ou dedicar-se a atividades
que a conduzam a crescimento saudável.
4. Essa concepção é radical, formulada em tese. Na prática,
podemos dizer que acontece nas pessoas, em graus variados. Todos estamos no
processo de crescer, de deixar manifestar-se a tendência atualizante e
cada um de nós consegue isso em algum grau; mas poderia avançar
mais.
5. Por quê? Acreditamos que, em algum grau, a cada um de nós faltaram
essas condições. Quais são essas condições?
Para desenvolver-se no sentido de sua auto-realizção, é
preciso que a pessoa encontre um clima humano no qual as relações
interpessoais sejam calorosas, que ela seja considerada e respeitada como pessoa.
6. Se a pessoa pode viver sua experiência, particularmente as experiências
que se referem ao eu, se pode tomar plena consciência de seus pensamentos,
desejos e sentimentos, necessidades, etc, sem precisar de negá-los ou
deformá-los (por medo de punição ou ameaça de não
ser aceita ou não ser apreciada pelas pessoas que ela valoriza) então
haverá correspondência entre sua experiência real, vivida
e suas percepções. E se há estreita correspondência
entre experiência e percepção, então, o comportamento
será adequadamente guiado.. Ao tomar consciência de sua experiência,
a pessoa é capaz de avaliá-la, verificá-la, manter ou corrigir
seu rumo na vida. Assim, a pessoa se realiza, cresce. A disponibilidade da experiência
permite autoavaliação e auto-correção.
7. Se, em algum grau, faltaram essas condições, a pessoa se distancia
de sua experiência interna, daquilo que é genuinamente seu, aliena-se
de si mesma, para livrar-se da ameaça de perder a aceitação
ou apreciação do outro.
8. A nossa função (como pais, educadores, psicoterapetas, facilitadores
do crescimento humano) é oferecer à criança, aos jovens,
aos adultos, um clima humano favorável a que ela possa entrar em contato
consigo mesma e rever a imagem que tem de si, ampliando-a, atualizando-a. Nossa
função é ajudar cada um a manter e desenvolver uma visão
de si mesmo como pessoa cheia de valor, com dons e capacidades, disponíveis
para o encontro com o outro; é contribuir para que cada um se dê
conta de que mesmo seus defeitos, imperfeições, limitações,
deficiências, fraquezas etc não diminuem seu valor como pessoa
e, por isso mesmo, não precisam de ser excluídos de seu campo
de percepção, de sua auto-imagem.
9. Nossa função como psicoterapeutas é criar um clima de
respeito, de acolhimento e consideração tal, pelas pessoas, que
elas se sintam seguras o bastante para se reaproximarem de sua experiência
(especialmente daqueles sentimentos que foram vividos mas não adequadamente
percebidos) e sejam capazes de reformular, de atualizar sua auto-imagem de forma
mais realista, mais compatível com o momento que estão vivendo.
( * ) Texto escrito por Ana Maria Sarmento Seiler Poelman, com base nas ideias
de Carl Rogers.
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